Pudesse eu, diante do silêncio que paira, reter o tempo e
este rastro de esperança que busca abrigo no meu coração.
Pudesse eu, plantar no espaço, desmanchadas as dores, a
imagem doce deste meu sonho lindo que se espedaça.
Pudesse eu, sem mágoas, tecer a vida, mesmo que por um
instante com todos os seus encantos, sem silêncios nem sombras.
Pudesse eu sentir mais uma vez a suave graça, o impulso
delicioso, o tépido agasalho e a doce sensação de felicidade.
Pudesse eu fazer da partida, com delicadeza, um sopro de
ausência e de saudade.
Quem sabe então, ao sentir a brisa, os cantos dos pássaros,
as flores espalhadas pelo vento que cicia, os cheiros, os odores da
natureza e a terra em festa, pudesse eu, na calma que a
alma embala, ver a luz que se esconde atrás do infinito, e fazer deste
tempo apenas nuvem que ao céu revoa.